sábado, 8 de novembro de 2008

Um Exemplo a Ser Seguido

Aprovado para delegado da PF, Juiz, Técnico Judiciário do TRT de Sergipe e Promotor de Justiça
Gildásio Rizério de Amorim nasceu a 26 de janeiro de 1955, em Brumado, Sertão da Bahia. Seus pais: Mizael Rizério de Amorim e Guiomar Rizério dos Santos Amorim, ambos falecidos.

Da lembrança de seu pai, pouco tem a recordar. No ano de 1960, face à divergência conjugal, seus pais se separaram, vindo sua mãe juntamente com os outros quatro irmãos mudar de cidade, saindo de Brumado, com apenas cinco anos de idade, para morar em Goiânia, capital do Estado de Goiás, local onde já se encontravam seus tios, irmãos de sua mãe. Durante os cinco anos de convivência com seu pai na Bahia praticamente nada se recorda. Após 1960, data que sua família se mudou de Brumado para Goiânia, jamais teve algum contato com seu pai, razão pela qual desconhece qualquer lição ou ensinamento de vida que tenha herdado dele.

De sua mãe tem as melhores e inesquecíveis recordações. Mulher de fibra, que com muita raça e disposição superou sozinha barreiras e incontáveis dificuldades, conseguindo criar, sem apoio do marido, cinco filhos crianças, tornando todos filhos honrados, dignificando a fibra e a honestidade de sua saudosa mãe, que faleceu em 1999, aos 82 anos, decorrente de morte natural.

Atribui a totalidade da característica de sua personalidade herdada de sua mãe. Seu pai faleceu em 1969 em decorrência de acidente de trânsito, vítima de atropelamento, em Vitória da Conquista. De sua inesquecível mãe herdou a lição de que na vida o homem não tem sonhos e sim objetivos. Por isso, segundo sua mãe, é muito importante sempre ser honesto e trabalhar não para realizar sonhos, mas sim para atingir seus objetivos traçados, através de seus próprios meios, com perseverança, trabalho e dedicação intensa em tudo que se pretende realizar e concretizar.

Mudando para Goiânia, em 1960, Gildásio e seus irmãos foram morar em local humilde, na periferia, no bairro Fama, face à precariedade econômica de sua família. Sem o pulso forte do pai, ele passou a se envolver com meninos de rua. Até os 10 anos de idade perambulava pelas ruas de Goiânia, juntamente com outros meninos, a praticar comportamento inadequado, causando transtorno e desgosto para sua mãe. Por mais que ela insistisse e lutasse, Gildásio dava muito trabalho, abandonando a escola, interrompendo seu curso primário.

Dos oito aos 12 anos ele engraxava sapatos, vendia jornais, pirulito, amendoim e lavava carros, dentre outras atividades de crianças e adolescentes pobres, visando sempre conseguir dinheiro para levar para sua mãe, a fim de complementar o orçamento doméstico.

Em 1965, com 10 anos, depois de muitas decepções causadas à sua mãe, ele pegou gosto pelos estudos e iniciou com muita disposição a 1ª série primária na Escola Pública João de Paula Teixeira, localizada no bairro Fama. Em 1966 e 1967 foi morar com um de seus tios na Vila Coimbra, passando a estudar a 2ª e 3ª série primária no Grupo Escolar Modelo.

No ano de 1968, saiu da casa do tio e passou a morar de volta no bairro Fama, juntamente com a mãe e irmãos. Neste ano, fez a 4ª série no Grupo Escolar José Honorato. Em 1969, já com 14 anos, morando no Setor Ferroviário, também periferia de Goiânia, concluiu o curso primário na Escola Pública Humberto de Campos, incluindo a admissão, que era o passaporte para o ginásio. Já no ano de 1970, com 15 anos, submeteu-se a exame e foi aprovado para fazer o ginásio na Escola da Irradiação Espírita Cristã Emmanuel, no Setor Sul, também escola pública, mas conveniada com entidade espírita de Goiânia.

Estudou os quatro anos do ginásio pela manhã, mas no período da tarde, e avançando pela noite, inclusive aos sábados, domingos e feriados, trabalhava com um de seus tios em um bar, desempenhando a função de gerente, apesar da idade de apenas 15 anos. Em 1973, com 18 anos, concluiu o ginásio. No ano seguinte submeteu-se e foi aprovado para estudar o antigo 2º grau na Escola Estadual Ruy Barbosa, onde cursou Contabilidade no período noturno, concluindo-o em 1977. Assim que foi aprovado para fazer o 2º grau ele deixou o bar de seu tio, após sete anos de dedicação como balconista. Em 1975 foi trabalhar na Sociedade de Automóveis Planalto, concessionária Volkswagen, onde trabalhava como auxiliar na seção de peças, incluindo serviço de faxina e abrir caixotes de peças.

Durante o curso de ginásio e de Contabilidade ele jamais se envolveu com política estudantil, pois, além de não ter tempo disponível para exercê-la, tinha e ainda atualmente nutre profunda aversão à política e principalmente aos políticos. Para ele, quase todos os políticos utilizam o cargo para tirar proveito próprio. Como visto, tanto a infância como sua juventude praticamente ele não a usufruiu, pois começou a trabalhar desde menino, aos oito anos, e jamais parou, sempre em busca de realizar seus objetivos de ser alguém importante na vida.
Ficou somente dois anos na Sociedade de Automóveis Planalto. Em 1978 e 1979 foi trabalhar na Planalto Máquinas Agrícolas, concessionária de tratores Valmet, sempre na seção de peças, como balconista.

Mesmo enfrentando muitas dificuldades na vida, juntamente com seus outros irmãos, Gildásio tinha o objetivo de fazer faculdade do curso de Direito, pois desde menino queria ser um doutor na área jurídica, apesar de ter consciência de suas graves limitações financeiras, pobre morador da periferia de Goiânia. Mas, após concluir o curso de Contabilidade, em 1978 matriculou-se no Colégio Carlos Chagas, escola particular de Goiânia, com o objetivo de fazer o cursinho e se preparar para enfrentar a desleal concorrência do vestibular na Universidade Federal de Goiás, onde, a exemplo de todo o Brasil, praticamente só passam candidatos de famílias de classe média alta.

Trabalhando o dia inteiro e freqüentando o cursinho à noite, restavam os sábados, domingos e feriados para ficar mais em casa e estudar intensamente as inúmeras apostilas do cursinho. Mas, segundo ele, como na vida nada é impossível aos que têm dedicação e empenho pelo que faz e que se compromete no que tem por fazer, em janeiro de 1979 teve o sabor da vitória de enfrentar candidatos poderosos e passou no vestibular do curso de Direito da Universidade Católica de Goiás, apesar de que era um simples balconista que recebia apenas um salário mínimo.

Simultaneamente à vitória do vestibular, também passou em 1979 nas provas do concurso para agente de Polícia Federal. Ocorre, entretanto, que o vestibular em que foi aprovado era do período diurno, impossibilitando-o de freqüentar a faculdade à noite. Seu patrão, para não perder o funcionário, único que havia sido aprovado no vestibular, permitiu que trabalhasse meio expediente no primeiro semestre, mas com a condição que passasse novamente no vestibular no meio do ano para freqüentar a faculdade à noite e que trabalhasse o expediente integral, sob pena de perder o emprego. Com dedicação intensa nas apostilas e nas matérias da faculdade, ele foi aprovado no vestibular do meio do ano, sendo o segundo, passando a estudar à noite e trabalhar integralmente.

Quando tudo estava normalizado, em agosto daquele ano houve a convocação para ir à Brasília fazer o curso de formação de agente de Polícia Federal. Precipitado para viajar logo, Gildásio não trancou a matrícula na faculdade. Após a conclusão do curso na Polícia Federal, em dezembro de 1979, procurou reativar a matrícula, mas foi impedido, ante a caracterização de abandono. Submeteu-se ao 3º vestibular e foi novamente aprovado em Direito na UCG. Em 1980, cursando o 2º ano de Direito foi convocado pela Polícia Federal para ir trabalhar em Guaira, no Paraná, na fronteira com o Paraguai. Precavido, para não perder as três vitórias obtidas nos vestibulares, promoveu o trancamento.

Passou cinco anos trabalhando na fronteira com o Paraguai, enfrentando contrabandistas e traficantes de drogas, dentre outras espinhosas funções. Em 1985 foi transferido para trabalhar na Superintendência Regional da Polícia Federal de Sergipe. Mas, antes de assumir em Aracaju, passou em Goiânia a fim de trazer a transferência do curso de Direito da UCG. Apesar de ter efetuado o trancamento da matrícula, foi jubilado pelo fato de ter ficado cinco anos sem freqüentar a faculdade. Chegou em Aracaju no início do ano de 1985. Em junho submeteu-se ao 4º vestibular em sua vida e foi aprovado para estudar na Faculdade Tiradentes.

Seus colegas da Polícia Federal lhe aconselharam a não efetuar a matrícula e tentar o vestibular na Universidade Federal de Sergipe. Assim o fez. Em 1985, submeteu-se ao 5º vestibular de sua vida, foi novamente aprovado.

Iniciando o curso de Direito em 1986 na UFS, teve a rara oportunidade de ser aluno de mestres inesquecíveis do quilate do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luiz Carlos Fontes de Alencar. Também foi aluno do ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres de Britto. Além destes mestres consagrados, também foi aluno dos inesquecíveis professores José Antônio de Andrade Góes, Osório de Araújo Ramos Filho, Jussara Fernandes Leal, Adélia Moreira Pessoa, Arlene Chagas, Eduardo Cabral de Menezes, Moacir Soares da Mota, Marilza Maynard, Maria Auxiliadora Sobral Leite, Antônio Vieira Barreto, dentre outros mestres que tanto lhe ajudaram a adquirir seus conhecimentos jurídicos.

Após as sucessivas e indesejáveis greves, finalmente em outubro de 1991, já contando com 36 anos, ocorreu a solenidade de formatura, coroando de êxito uma trajetória de muita luta e sofrimento, sempre provando o sabor amargo que a vida oferece aos menos privilegiados. ‘Naquela época, a Polícia Federal passava por uma de suas piores crises. Os salários eram aviltantes, irrisórios. Os agentes não tinham as mínimas condições de trabalho. O então diretor geral da PF, Romeu Tuma, retirou todas as gratificações administrativas, reduzindo bastante a remuneração dos agentes”. Aliado a estes fatos e unindo à circunstância de ter formado recentemente em Direito, Gildásio, após 11 anos de trabalho no órgão, se afastou da Polícia Federal e foi exercer a advocacia durante três anos, de 1992 a 1994, atuando em todas as áreas, mas sempre visando ser aprovado em concurso para juiz ou promotor de Justiça. Em 1985, assim que chegou em Aracaju, conheceu uma moça a qual teve um rápido relacionamento que, ficando grávida, em setembro de 1987 nasceu seu único filho, Wesley Thiers, estando com 16 anos de idade. Pensando na garantia de melhor futuro, matriculou o filho no Colégio do Salvador, considerado um dos melhores colégios de Aracaju, pois além da sólida formação cultural, o colégio também promove a doutrina religiosa cristã, capacitando o aluno para enfrentar os tantos obstáculos na vida.

Visando concretizar seu objetivo de ser juiz ou promotor de Justiça e para melhor se preparar para enfrentar os fortes candidatos nos concursos públicos, Gildásio Rizério de Amorim matriculou-se no Centro de Estudos Jurídicos, conceituado curso preparatório aos mais diversos concursos públicos, coordenado pela professora Jussara Fernandes Leal. No curso, reuniam-se os melhores professores da atualidade, sendo em sua maioria remanescentes da Universidade Federal de Sergipe. Ele freqüentou o curso durante os anos de 1992 a 1994, sempre se preparando para os melhores concursos públicos. Em 1995, submeteu-se a quatro concursos e foi aprovado em todos. Aprovado para delegado de Polícia Federal, juiz de Direito em Alagoas, técnico judiciário do Tribunal Regional do Trabalho de Sergipe e também para promotor de Justiça na Bahia. Simultaneamente às aprovações, foi convidado para ser advogado do Ecad, para cuidar de direitos autorais. De todas as quatro aprovações fez a opção de ser promotor de Justiça na Bahia, tomando posse em agosto de 1995.

Iniciou sua carreira de promotor em Abaré, extremo norte da Bahia, na divisa com Pernambuco. Ante a carência de promotor na região, trabalhou simultaneamente nas comarcas de Abaré, Macururé e Chorrochó. Em setembro de 1996 foi transferido para trabalhar em Antas. Novamente por falta de promotores disponíveis, exerceu sua função simultaneamente nas comarcas de Antas, Jeremoabo, Cícero Dantas e Paripiranga. Com a realização de concurso público, as comarcas foram lotadas com seus respectivos promotores de Justiça, fazendo com que Gildásio trabalhasse somente em Paripiranga, local que em maio de 1997 efetivou-se como titular. O ano de 1997 foi marcante e muito importante em sua vida. Além de ter sido efetivado como titular da comarca, ele também conheceu o grande amor de sua vida, Arine Marcele, uma linda jovem com apenas 18 anos. Sendo amor à primeira vista para ambos, iniciaram o namoro naquele ano e, em 1998, noivaram e também se casaram. Decorridos mais de cinco anos de casamento, vivem em harmoniosa vida conjugal, vivendo a expectativa de providenciar e terem o primeiro filho.

Trabalhando na comarca de Paripiranga, Gildásio Rizério de Amorim foi reconhecido pela mídia nacional, adquirindo notoriedade pública em decorrência de seu incansável trabalho de combater o analfabetismo no município. Ao chegar a Paripiranga, em 1996, constatou que inúmeras crianças perambulavam pelas ruas da cidade sem freqüentar escola, sendo que apenas 1.500 delas estavam matriculadas e estudavam, apesar de o município ter mais de 26 mil habitantes. Ele então iniciou uma acirrada campanha de colocar as crianças na escola, sob pena de prisão dos pais.

Ante a repercussão de sua movimentação de ameaça de prisão, aumentou consideravelmente a quantidade de alunos nas escolas. Decorridos mais de sete anos de trabalho, atualmente Paripiranga possui mais de seis mil alunos matriculados e freqüentando regularmente as escolas públicas da rede municipal. Em 1998, foi necessário conduzir pai e mãe para a delegacia de polícia, com instauração de inquérito policial, ante a resistência de eles não quererem que seus filhos estudassem. A imprensa tomou conhecimento do importante trabalho de Gildásio Rizério de Amorim, sendo por isso objeto de reportagem na Folha de São Paulo, Correio Brasiliense, Estado de São Paulo, A Tarde e também em jornais locais como o Jornal da Cidade, Cinform e Correio de Sergipe, dentre tantos outros jornais que divulgaram seu trabalho de relevante valor na área da educação. Em decorrência da ampla divulgação da imprensa escrita, a Rede Bandeirantes compareceu a Paripiranga, em outubro de 1998, e em seguida, a Rede Globo de Televisão também enviou uma equipe do Fantástico para fazer reportagem, a qual ao ser exibida repercutiu nacionalmente. Mas Gildásio Rizério de Amorim não se empolgou nem se empolga com tantas reportagens e continua fazendo seu trabalho de repressão aos pais e mães que insistem que seus filhos não freqüentem as escolas. Seu método é simples e não requer recursos públicos. Desde 1997, a cada dois meses ele envia ofícios para todos os professores das 53 escolas públicas do município requisitando levantamento nos diários de classe. Os alunos que tiverem mais de duas faltas no bimestre, seus pais são intimados para prestarem esclarecimentos em audiência pública coletiva no salão do júri do fórum. Cada ano que passa aumenta a quantidade de alunos matriculados nas escolas da rede municipal de Paripiranga. São mais de cinco mil crianças que passaram a estudar e freqüentar as escolas.

Como visto, Gildásio Rizério de Amorim tem uma vida marcada por trajetória de muita luta, sofrimento e obstinação em vencer. Atingiu o cargo de promotor de Justiça da Bahia através de recursos próprios, sem padrinho ou alguém que lhe ajudasse financeiramente ou outro qualquer tipo de ajuda.

Caso Eloá - O Fracasso dos Políticos

No fim, são os políticos os principais responsáveis pela repetição de tragédias como a do ônibus 174 e do seqüestro em Santo André

O FRACASSO DA POLÍCIA É DOS POLÍTICOS
A menina Eloá Cristina na janela esperando uma chance de viver

José Padilha e Rodrigo Pimentel
Fonte: Folha de São Paulo

Não são apenas as ocorrências mal administradas, cheias de erros primários e ilegalidades que demonstram a necessidade de uma reforma da segurança pública no Brasil. Os dados indicam essa necessidade faz tempo. E os nossos políticos, apesar de conhecerem os dados, têm se mostrado incapazes de realizar tal reforma. São eles, no final das contas, os principais responsáveis pela repetição cotidiana de tragédias como a ocorrida no evento do ônibus 174 e do seqüestro em Santo André.

Em conversa informal com agentes do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), descobrimos que eles estão desolados com o desfecho da ocorrência, que custou a vida de uma pessoa e feriu outra, e revoltados com os políticos, devido ao descaso que têm com a unidade, exposta ao ridículo com o fracasso da operação.

Afinal, se o GATE dispusesse do equipamento necessário para administrar uma ocorrência desse tipo, como uma microcâmera de fibra ótica, saberia que o seqüestrador tinha encostado um armário de TV e uma estante na porta de entrada do apartamento. Saberia que seqüestrador e reféns não estavam na sala, mas no quarto.

Saberia que uma invasão pela porta da frente daria tempo para o seqüestrador atirar nas reféns. Mas o GATE não sabia de nada disso e perdeu preciosos segundos abrindo a porta. Se o GATE dispusesse de escada com alcance para que um policial pudesse entrar no apartamento pela janela, poderia ter evitado a tragédia. Mas a escada do GATE, como atestam as filmagens, era curta demais.

Se os policiais do GATE fossem bem treinados, não teriam deixado que uma menina de 15 anos, libertada pelo seqüestrador, voltasse a ser prisioneira. Não teriam demonstrado tamanha incompetência e desconhecimento legal. Mas os policiais do GATE, como os do BOPE e do resto do país, não recebem treinamento adequado.

Quando trabalhamos no documentário "Ônibus 174", sentimos a mesma revolta por parte dos policiais do BOPE, que, em sua maioria, odeiam os políticos a quem servem. André Batista, colaborador em "Tropa de Elite" e negociador do BOPE na malfadada ocorrência, deu o seguinte depoimento para o documentário:

"Naquele momento, a gente viu que faltava muita coisa. As coisas que a gente vivia pedindo, os equipamentos, os cursos, parece que, naquele momento, tudo desabou." Ouvimos, virtualmente, a mesma coisa do GATE.

Chegamos, assim, a uma conclusão absurda. Concluímos, parafraseando Nietzsche, que é preciso defender os nossos policiais dos nossos políticos! Afinal, quem são os nossos policiais? E o que o Estado, administrado pelos políticos eleitos, fornece a eles?

Tomemos como exemplo um policial carioca. É um sujeito mal remunerado, mal treinado, que trabalha em uma corporação corrompida por dentro. Isso é o que o Estado lhe dá. E o que pede em troca? Que mantenha a lei. Em outras palavras, que entre em conflito com os membros corrompidos da sua corporação e com os bandidos fortemente armados da cidade.

Ora, não é à toa que o capitão Nascimento, refletindo um sentimento comum entre os policiais do BOPE, tenha dito que "quem quer ser policial no Rio de Janeiro têm que escolher. Ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra." Em São Paulo, não parece ser muito diferente. Não esqueçamos, pois, o ano de 2003, quando o então secretário nacional de Segurança Pública, o sociólogo Luiz Eduardo Soares, estava prestes a conseguir a reforma que nossos policiais sérios tanto pedem.

Ele tinha participado da elaboração de um plano de segurança pública que previa um piso nacional decente para o salário dos policiais, a integração da formação e das plataformas de informação das polícias estaduais, o repasse de recursos federais para os Estados condicionado à reforma de gestão e ao controle externo e a desconstitucionalização da segurança pública, dando autonomia para que os Estados reformassem as polícias de acordo com as realidades locais.

Apresentou o plano ao governo federal com a assinatura de todos os governadores. E o que fez o governo? Desistiu. Nem sequer apresentou o plano ao Congresso. Não o reformulou, optou pela passividade. Segundo nos disse o sociólogo, por considerar que a reforma demoraria a dar resultado e que a opinião pública poderia responsabilizar o governo federal, e não os Estados, se eventuais tragédias ocorressem durante a implantação.

Evidentemente, não estamos culpando os atuais governos federal e estadual pelo desfecho do seqüestro em Santo André. Afinal, governos anteriores poderiam ter tentado reformar a segurança. O governo FHC, por exemplo, prometeu um plano nacional depois do ônibus 174.

Estamos culpando os verdadeiros responsáveis: os nossos políticos como um todo, que há muito tempo sabem que precisam reformar a segurança pública para salvar a vida de milhares de brasileiros e que há muito tempo fracassam ao não levar essa tarefa a cabo.

Um fracasso ainda mais vergonhoso do que o dos policiais do BOPE e do GATE.

JOSÉ PADILHA, cineasta, é diretor dos filmes "Ônibus 174", "Tropa de Elite" e "Garapa"

RODRIGO PIMENTEL, sociólogo, é ex-capitão do BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) do Rio de Janeiro, um dos roteiristas de "Tropa de Elite" e co-produtor de "Ônibus 174".