domingo, 20 de dezembro de 2009

Gêneros Musicais Universitários

Por James Martins (Jornal da Metropole)

Se esta época merecer destaque na memória das gerações futuras, será por ter oficializado a porcaria. E mais: por conseguir transformar em lixo manufaturado (e faturar alto!) o luxo espontâneo que o povo cria sem regulamentos. Assim são os gêneros (genéricos) musicais chamados universitários. Quer ver? Ouça!

Forró Universitário

Antônio Conselheiro profetizou o sertão virando mar e o mar virando sertão. O que o velho sequer imaginou, nem sob o efeito de cigarros, nem de Canudos, foi que um dia o gênero consagrado por Luiz Gonzaga tivesse a sua versão made in classe média paulista. Desde 1998, quando o Falamansa veio com aquela conversa mole, o forró nunca mais foi o mesmo. Estava criada a vertente universitária do estilo.
Se o baião veio debaixo do barro do chão, estas bandinhas, que se colocaram como alternativa ao forró vulgar e elétrico de grupos como Calcinha Preta, vieram de dentro dos carpetes dos playgrounds. De agora em diante, fica estabelecido que o pé é de serra, mas o cantor tem rinite alérgica. Coisa de fresco.

Sertanejo Universitário

A falsidade desta modalidade de golpe de marketing já começa no nome de seus precursores. João Bosco e Vinicius te lembram o quê? Pois é, mas se um não é o sambista, tampouco o outro é o poeta. E nem a dupla é sertaneja, mas sertaneja universitária (daquelas que fazem meia
música porque pagam meia-entrada). Se Leandro & Leonardo já eram chatos, estes, então, vãoser ruins assim lá onde o Judas perdeu as botas de couro legítimo. Outros famosos por interpretar o sertão pelos campus ‘universotários’ são César Menotti e Fabiano. Reparando bem, o que eles fazem é uma espécie de axé music falando de vacas e rodeios. Não por acaso, existe até uma dupla sertaneja universitária baiana. É mole ou quer mais?

Axé Universitário

Se você, querido leitor, está pensando que na Bahia ninguém precisa tirar diploma de bobalhão, tá por fora! Ou vai dizer que não reparou que A Zorra é nada menos (e infelizmente nada mais) que uma banda de Axé Universitário? O que distingue o estilo universitário do original é que o primeiro pelo menos tem o tônus da criação, enquanto o derivado não consegue se livrar daquele jeito de “não tem nada a ver”. Exemplo: sabe aquele nerd da escola que você reencontrou irreconhecivelmente bombado, mas com a mesma cara de abestalhado? É isso.

Funk Carioca Universitário


Este estilo não vingou. Talvez porque o tráfico esteja atrapalhando a construção de faculdades nos morros cariocas. Ou talvez porque o Bonde Du Rolê, banda surgida em 2005 e única representante do assunto, seja universitária demais para ser funk. Além de ser de Curitiba, onde só se ouve palavrão com naturalidade na primeira sílaba do nome da cidade. Mesmo atochando umas sacanagens nas letras, fica bem claro, já à primeira ouvida, que os meninos não têm a pegada à vera.

http://www.radiometropole.com.br/jornal/pdf/jornaldametropole_18122009.pdf

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