terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Jayme Figura - o Basquiat Baiano

www.pirula.com.br/jaymefigura
“Eu vivo aqui pensando como sobreviver,
Enquanto o mundo vai girando”Jayme Figura

Quem avista a primeira vez aquela figura exótica, com máscara de ferro, vestes que lembram os orixás Exu e Oxóssi e apetrechos espalhados pelo corpo, caminhando pelas ruas do Comércio, nem imagina que por trás de toda aquela parafernália existe um ser humano sensível e intelectualizado. Jayme Figura, como é conhecido e prefere ser chamado, é o tipo de artista que provoca inquietações por onde passa.

“Eu comecei a me vestir assim por conta da minha trajetória de vida, os sentimentos em si, que me fizeram fazer um trabalho que vestisse meu corpo através do tempo para violência. Quando surgiu o movimento punk eu era visto como marginal e as pessoas insistiam em olhar em meus olhos e dizer que eu era cínico, marginal, diante disso eu peguei e escondi o rosto para que vissem só a minha obra”, disse Jayme.

Aos 53 anos, o homem-figura diz já ter sido agredido várias vezes e a maneira como ele responde essas agressões é utilizando os apetrechos que transformam o ex-boêmio num personagem que desperta a curiosidade dos que transitam pelo Bairro Comércio de Salvador.

O artista misterioso diz não se importar com o medo e o preconceito que algumas pessoas têm da sua corporatura, uma vez que ele não se vê. “Eu não me olho no espelho para não ver o que as pessoas estão vendo, por que se eu sair de casa e me olhar no espelho eu irei ver que estou realmente diferente do ser humano. Quando alguém se assusta comigo eu digo que não sou aquilo que a pessoa está vendo, me olhar é ver a imagem que a ordem faz”, falou Jayme.

Jayme Figura é um autodidata do Comércio, um andarilho que inspira poesia e inteligência e ainda assim o menino que não se conhece até hoje fala com tristeza da rejeição familiar. Segundo ele, por ser um homem negro que vestia roupas exóticas, a família não lhe dava crédito. Entretanto, Jayme possui vários filhos, já teve várias mulheres e amantes. Atualmente ele vive com a última família.

O artista diz que por ser um boêmio, ele teve várias mulheres, mas não se casou com nenhuma, pois o que ele queria é ter filhos. Apesar de ser um bom vivant, diz ser a própria morte por não desfrutar da vida como antes, vida que ele define como gostosa. O ser vivo, não ateu, que dorme em caixão, não esconde certa melancolia ao falar de uma das suas amantes, que morreu. Segundo Jayme o amor não vingou por conta das diferenças sociais, ela era uma dama da sociedade e ele um artista marginalizado.

“A morte dela foi horrível, apesar de não poder ficar com ela por causa das famílias que também não permitiam uma imagem dessas se relacionando com uma mulher da sociedade”.

Durante a entrevista, crianças passam e mexem com Jaime, que tem uma reação inesperada e diz que as crianças são a sua morte, pois ele não pode abrir mão delas.

“As crianças me adoram, mas eu não posso deixar, pois eu não sou palhaço e se eu fizer sintonia com elas eu perco minha essência”.

Jayme, que em breve vai inaugurar seu atelier com obras sobre as peripécias de Hitler, afirma ter pouco estudo e já ter vivido de renda, entretanto, no período de crise do governo Collor, ele caiu na miséria.

Assim como Jean-Michael Basquiat, artista que viveu em Nova York, que vivia pelas ruas fazendo arte nos muros, Jaime constrói sua arte. Ambos frutos do contexto urbano, Jayme Figura reproduz sua ambiência em seu corpo e nas paredes do mercado modelo.


Porta de entrada e janela da casa de Jayme Figura

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