A Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta quarta-feira (21), a
criação da Comissão da Verdade, que irá apurar violações aos direitos
humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditatura militar. A
proposta, com origem no Executivo, ainda precisa ser analisada pelo
Senado Federal.
A versão final do texto aprovado incluiu mudanças sugeridas pelo DEM,
que propôs limitações ao perfil dos integrantes da comissão, que será
composta por sete membros indicados pela presidente Dilma Rousseff.
Após
reuniões entre lideranças, a base do governo aceitou incluir emendas
apresentadas pelo DEM, PSDB e PSOL.
Deputados no plenário da Câmara na sessão deliberativa desta quarta (21) (Foto: Beto Oliveira/Ag.Câmara)
Segundo o líder do DEM, ACM Neto (BA), as mudanças visam impedir
indicações políticas. A emenda do DEM impede que participe da comissão
"quem exerce cargo no Executivo e em partido, quem não tenha condições
de atuar com imparcialidade e quem esteja no exercio de cargo em
comissão ou função de confiança".
As mudanças foram apresentadas por volta das 22h pelo líder do governo
na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). "O que eu recebi de orientação do
governo é que há compromisso de que este será o texto defendido pelo
governo, que vai para o Senado e para sanção presidencial", afirmou.
O líder do DEM, ACM Neto (BA), tambem comemorou a realização do acordo.
"Traduzo aqui o sentimento de esperança da nossa parte, por isso
colaboramos para que essa comissão tenha a missão de buscar os fatos
históricos que sejam de conhecimento nacional que é um direito do Brasil
e da cidadania. Sempre fomos a favor da comissão da Verdade", disse ACM
Neto.
Após o anúncio do acordo, o relator Edinho Araújo (PMDB-SP) voltou à
tribuna e anunciou a aceitação das emendas anunciadas pelo líder do
governo. Uma emenda que foi apresentada pelo PSOL chegou a ser acatada
pelo líder do governo foi rejeitada pelo relator.
A segunda emenda, do PSDB, acrescenta que "qualquer cidadão que
demostre interesse em esclarecer situação terá prerrogativa de prestar
informações para fins de esclarecimento da verdade".
O projeto de lei diz que a Comissão não terá poderes para punir agentes
da ditadura. As investigações incluem a apuração de autoria de crimes
como tortura, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de
cadáveres, perdoados com a Lei da Anistia, de 1979.
A comissão terá dois anos para produzir um relatório, com conclusões e
recomendações. Durante as investigações, o grupo poderá requisitar
informações a órgãos públicos, inclusive sigilosas, convocar
testemunhas, realizar audiências públicas e solicitar perícias.
A comissão terá ainda de enviar aos órgãos públicos competentes
informações que ajudem na localização e identificação de restos mortais
de pessoas desaparecidas por perseguição política.
Discussão
A discussão da matéria na Câmara, iniciada no final da tarde, se arrastou pela falta de acordo sobre o formato final do grupo, que será indicado pela presidente Dilma Rousseff. Durante as conversas, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, estiveram reunidos com os líderes em busca do acordo. O ex-deputado federal José Genoino (PT-SP), hoje assessor do Ministério da Defesa, também participou das discussões.
A discussão da matéria na Câmara, iniciada no final da tarde, se arrastou pela falta de acordo sobre o formato final do grupo, que será indicado pela presidente Dilma Rousseff. Durante as conversas, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, estiveram reunidos com os líderes em busca do acordo. O ex-deputado federal José Genoino (PT-SP), hoje assessor do Ministério da Defesa, também participou das discussões.
Durante a discussão final, já à noite, que durou cerca de 30 minutos, o
deputado Ivan Valente (PSOL-SP) foi o primeiro parlamentar a se
manifestar na defesa do projeto. Segundo ele, a Comissão da Verdade é
necessária para que o Brasil esclareça sua história. "Queremos que o
Brasil feche de verdade essas feridas e possa virar a página" , afirmou.
Contrário à proposta, o deputado Arolde de Oliveira (DEM-RJ) disse que,
se for aprovada, a comissão pode trazer problemas para o país. "Estamos
mexendo numa ferida que já está cicatrizada que poderá voltar a causar
problemas sérios", disse.
O deputado Domingos Dutra (PT-MA) foi aplaudido na defesa da matéria.
"Mataram, esquartejaram e não querem que a gente saiba o que aconteceu.
Isso não pode!"
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), contrário à proposta, chegou a se
exaltar durante o discurso com alguns deputados que falvam durante seu
discurso. "Cala a boca que eu estou falando, cala a boca". Bolsonaro
disse que os argumentos para a criação da comissão são "piadas".
"A Dilma vai ter o seu troco. Eu não tenho medo de vocês não. Não
venham me ameaçar. [...] É uma piada. Piada para morrer de rir. Fidel
Castro financiou a luta armada. Essas verdades vêm a público e vocês não
querem ver. Fizeram curso em Cuba, na Coreia na China de como matar,
torturar", disse.
Ao final da votação, Maria do Rosário comemorou pelo Twitter.
"Obrigada! O Brasil tem mais fé na democracia com a aprovação pela
Camara da #comissãodaverdade! Estou aqui emocionada", escreveu no
microblog.
Histórico
A criação da Comissão foi proposta no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, assinado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2009. O texto diz que a comissão busca trazer à tona a "verdade histórica" sobre o período militar e "promover a reconciliação nacional".
A criação da Comissão foi proposta no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, assinado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2009. O texto diz que a comissão busca trazer à tona a "verdade histórica" sobre o período militar e "promover a reconciliação nacional".
Desde que foi proposto, o texto foi alterado em vários pontos,
principalmente para atender aos militares, que temiam uma revisão da Lei
da Anistia. Sancionada em 1979, durante a redemocratização, a lei
impede a responsabilização penal por crimes políticos perpetrados
durante a ditadura militar (1964-1985). Os militares ainda exigiam que a
comissão tratasse de organizações de esquerda que aderiram à luta
armada.
Ainda durante as negociações, o período de análise foi ampliado, passou
de 1964-1985 para 1946-1988. O projeto também aboliu a expressão
"repressão política".
Fonte: http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/09/camara-aprova-criacao-da-comissao-da-verdade.html
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